Em alusão ao “Janeiro Roxo – Todos Contra a Hanseníase”, a Fundação Centro e Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa) promoveu nesta quinta-feira, dia 17, no auditório da instituição, a palestra “Epidemiologia da Hanseníase no Pará e Possíveis Impactos na Doação de Sangue”, ministrada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), Doutor Cláudio Guedes Salgado. A doença é descrita como inaptidão definitiva para a doação de sangue, segundo a Portaria de Consolidação nº 5, do Ministério da Saúde.
Todos os anos, 200 mil novos casos de hanseníase são diagnosticados no mundo; no Brasil, esse número é de cerca de 30 mil, sendo 10% dos casos no estado do Pará. “É preciso ficar sempre em alerta com reação aos dados. A redução no número de diagnóstico não necessariamente é uma boa notícia. No caso da hanseníase, pode significar problemas na atenção básica de saúde e falta de capacitação dos profissionais envolvidos. Quando maior for o investimento, mais casos são descobertos”, explica o presidente da SBH.
Para o Doutor Cláudio, o grande problema está exatamente na demora e até na ausência de identificação da doença. “Não há teste laboratorial que detecte 100% das formas clínicas da hanseníase. Porém existem ferramentas laboratoriais que podem dar suporte à detecção da doença. Por isso, é preciso capacitar os profissionais médicos para avaliação clínica. O Exame de Contato é um procedimento demorado, trabalhoso e que exige conhecimento, mas é a ferramenta mais eficaz no controle da doença”.
A hanseníase tem cura e o tratamento é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento elimina os bacilos e, consequentemente, a possibilidade de contágio. “Mas nunca é demais ressaltar que, para que haja tratamento efetivo, sem sequelas e com qualidade de vida para o paciente, é necessário diagnóstico precoce”, ressalta.
Ao final da palestra, o coordenador do Programa de Controle da Hanseníase da Secretaria de Estado de Saúde, Bruno Pinheiro, apresentou as ações de combate à doença no estado. “A hanseníase realmente ainda é uma doença negligenciada e que necessita de medidas de diagnóstico e controle. Nossa iniciativa mais efetiva será quanto à Avaliação de Contato dos casos índices e o acompanhamento desse indivíduo. Também vamos dar todo o suporte e assessoria aos municípios na disseminação de informações acerca da doença”.
Pesquisa: A palestra é resultado do projeto de pesquisa “Perfil Sorológico de Anti-PGL-I e Detecção Molecular de Mycobacterium Leprae em amostras de Doadores de Sangue Inaptos do Hemopa”, ainda em andamento na Fundação Hemopa, de iniciativa da servidora Erika Vanessa Oliveira Jorge. “Neste trabalho, nossa fonte de pesquisa são os doadores considerados inaptos. Isso se deve ao fato de não querermos interferir no estoque da Fundação, que normalmente está em situação crítica, e também pelas questões éticas presentes na política nacional do sangue”.
Segundo Erika, o principal objetivo da pesquisa é “fazer o possível diagnóstico da hanseníase em pessoas assintomáticas, dentro da população identificada como inapta para a doação de sangue, através de exames complementares e posterior avaliação clínica dos casos sugeridos. Tudo para voltado para o diagnóstico precoce e, portanto, para a prevenção de incapacidades ocasionadas pela hanseníase”.
A diretora Técnica da Fundação Hemopa, Dra. Ana Luísa Langanke Pedroso Meireles, acredita que a pesquisa é apenas um ponto de partida para outras que virão. “Esse é um assunto muito rico e pouco explorado. Ou seja, essa pesquisa é muito importante para a instituição. A Fundação é muito conhecida pela sua atuação técnica, mas nós temos uma área de ensino e pesquisa. Ver uma servidora nossa produzindo conhecimento nos traz muito orgulho”.