Carla Alba, de 47 anos, é paciente ativa do Ambulatório da Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa). Ela tem Anemia Falciforme, uma doença do sangue que provoca deformação das hemácias. Pelo menos quatro vezes ao ano ela faz o acompanhamento com a equipe multidisciplinar da Fundação. E quando saí do consultório médico com o receituário, passa na Farmácia do Ambulatório e garante os medicamentos Prednisona e Ácido Fólico de forma gratuita.
“Hoje em dia está tão difícil pra gente conseguir um tratamento. E todas as vezes que venho por aqui sou bem atendida e ainda recebo os medicamentos. Nem sempre estou com dinheiro para comprar, então eu acho muito bom este serviço oferecido aqui no Hemopa”, declarou Carla Alba que recebe assistência há cerca de dois anos.
A paciente recebeu a quantidade necessária de medicamentos até dezembro, mês em que ela voltará ao Hemopa para nova consulta. O fracionamento de medicamentos é regulamentado pelo Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A RDC nº 80, de 11 de maio de 2006, permite que farmácias e drogarias fracionem medicamentos “a partir de embalagens especialmente desenvolvidas para essa finalidade de modo que possam ser dispensados em quantidades individualizadas para atender às necessidades terapêuticas dos consumidores e usuários desses produtos, desde que garantidas as características asseguradas no produto original registrado e observadas as condições técnicas e operacionais estabelecidas nesta resolução”, assim está descrito no documento.
E em atendimento a Anvisa, a Farmácia ambulatorial do Hemopa aplica esta resolução para os medicamentos que são distribuídos para os pacientes do ambulatório, desde junho deste ano. O gerente da unidade, responsável pela Dispensação de Medicamentos da Fundação, Robson Paixão, explica que já é possível observar os benefícios de trabalhar com o fracionamento. “Antes, se o médico prescrevia apenas três comprimidos de uma cartela que tem 10, o paciente levava a cartela inteira. Neste caso, sobravam sete comprimidos. Porém, esta sobra significa uma perda financeira ao Hemopa, pois os comprimidos não usados poderiam servir para outro paciente. Além disso, evitamos a automedicação, caso este paciente que levou a cartela para casa queira fazer uso de mais comprimidos sem a orientação devida”, explicou o farmacêutico.
Com a individualização de medicamento é possível atender a necessidade real de quem precisa e, ainda ampliar a assistência aos pacientes, trabalhando os recursos de forma adequada, sem excesso de gastos.
A maior demanda da Farmácia do Hemopa é para tratamento de Hemonoglobinopatias, doenças falciformes. Os pacientes fazem o uso contínuo de medicamento e retornam de acordo com as avaliações médicas. E também o tratamento de Coagulopatias, doenças do sangue. E os medicamentos disponibilizados são para dor, analgésicos e antiflamatórios.
O técnico em informática, Flávio Nascimento, 23 anos, tem Hemofilia tipo A, quando o Fator de coagulação afetado é o VIII (oito). Quando está em crise, os joelhos e os cotovelos incham e ele não consegue se movimentar, além de sofrer com a dor. Por isso, Flávio recebe o Fator VIII, gratuitamente, na Farmácia do Hemopa. “Eu acho muito bom esse serviço. Sem esses remédios eu não consigo andar. Se eu fosse comprar seria caro e não achamos o medicamento facilmente”, destacou o usuário que faz tratamento há quase 10 anos no Hemopa.
A Farmácia presta assistência para os usuários em atendimento regular e que atualmente são cerca de 14 mil pessoas, entre crianças, adolescente e adultos. São distribuídos medicamentos de uso agudo, para tratamento de dor e inflamação e, os de uso contínuo, para tratamento a longo prazo, como o ácido fólico e corticóides.
“A gente consegue cobrir, de forma integral os nossos pacientes, pois muitos são de municípios vizinhos e não conseguem viajar com freqüência para capital e ficam de dois a três meses para retornar ao Hemopa. Damos toda a assistência e orientação para que este paciente consiga usar o medicamento de forma adequada em casa”.
Este é o caso de Jamile Santos, de 13 anos, que tem púrpura trombocitopênica imunológica, uma doença autoimune que se caracteriza pela destruição das plaquetas, células produzidas na medula óssea e ligadas ao processo de coagulação inicial do sangue. A avó, dona Lúcia de Oliveira, traz a neta de dois em dois meses, para as consultas de acompanhamento no Hemopa.
Elas moram no município de Tomé Açu, no nordeste do estado. Em cada consulta, o Hemopa já entrega a dosagem correta de medicamentos para o tratamento de Jamile em casa. “Se eu fosse comprar esses remédios, eu ia gastar o que não tenho. Nós economizamos para sobrar o dinheiro do transporte para vir pra cá”, revelou a dona de casa.
E esta é a realidade da maioria dos pacientes atendidos no Ambulatório da Fundação Hemopa. O atendimento ao usuário é feito de forma humanizada e a assistência multiprofissional possibilita um tratamento completo, incluindo cobertura médica, odontológica, nutricional, psicológica e de assistência social. Além, claro, da farmacêutica, com a distribuição gratuita de medicamentos fracionados.